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Blog do Luiz


“Não existe cidade inteligente sem gente”

Luiz Alberto Rodrigues é autor de um livro sobre o assunto e concedeu uma entrevista exclusiva ao Diário do Grande ABC

Disponibilizar um portal na internet não basta para tornar uma Cidade Inteligente. Informações sem padronização, que não possam ser lidas e interpretadas para gerar processos que melhorem a eficiência dos serviços públicos aos munícipes, são inertes. Fundador e CEO da Eicon, empresa de São Bernardo especializada em sistemas de administração pública, Luiz Alberto Rodrigues lançou um livro – Cidades Inteligentes em Perspectiva: Sem Gente a Cidade é uma Triste Ficção – no qual propõe redirecionar a tecnologia para entender, e atender, o cidadão, que deveria ser o centro das decisões dos prefeitos.

Qual é o conceito de cidades inteligentes, sobre as quais seu livro fala?

Há várias vertentes. Quando se fala em smart city, sempre olham para mobilidade urbana e sustentabilidade. Mas, quando resolvi escrever o livro sobre cidades inteligentes, eu estava olhando as pessoas. Quem são essas pessoas? Como elas circulam nas cidades? Como se relacionam com o governo? Como elas podem avaliar as áreas do governo? Porque hoje não temos uma avaliação estratégica do governo.

Qual a dificuldade de se implantar uma Cidade Inteligente?

É uma questão de comunicação. Os portais não foram construídos para que as classes C, D e E tenham acesso. Infelizmente, de forma sistêmica, temos o que chamamos de gestão de relacionamento, que não é voltado às classes C, D e E, onde estão os principais usuários da cidade, dos serviços de saúde e educação, e que têm dificuldade de se relacionar com o governo. Foi justamente para abrir a perspectiva de se pensar além da mobilidade urbana, de nos comunicarmos com os cidadãos, todos eles, é que nos propusemos a escrever o livro.

Qual a proposta do livro?

Desafio qualquer pessoa do governo a entrar em seu próprio portal e tentar executar um serviço. Ela não consegue uma comunicação simples, fácil, como hoje os aplicativos oferecem para toda a população e qualquer tipo de usuário. É muito difícil. Os portais, hoje, têm quatro vertentes – saúde, educação, tributária e uma geral, com toda as notícias do governo –, quando deveriam ter uma única vertente, destinada a facilitar o relaciomento com a população.

Onde estão os gargalos?

Os governos não têm uma plataforma integrada. Não conseguem saber quais são os usuários da saúde, da educação, quem consome os serviços e quais as suas reais necessidades e demandas. O livro se propõe a mostrar a dificuldade que o cidadão tem para se relacionar com a cidade e propor soluções.

O sr. é categórico em dizer que atualmente não existe Cidade Inteligente no Brasil?

Com certeza absoluta, não tem. Nem as capitais. Hoje, o usuário consegue avaliar o serviço da Uber, mas não consegue avaliar a qualidade do serviço da saúde oferecido pelo município, ou o da escola. Nem mesmo consegue acompanhar a solicitação da poda de uma árvore ou de um tapa-buraco. Não há como dizer se você está satisfeito com o serviço tomado ou não. Dessa maneira, a avaliação do governo sobre a qualidade dos serviços que presta é uma pseudoavaliação. Não existe no Brasil, hoje, um processo de Cidade Inteligente voltado ao cidadão, de modo que se saiba quem ele é, o que possui, o que utiliza e o que consome. Não existe Cidade Inteligente sem gente.

E o que os municípios precisam fazer para incluir o cidadão neste processo?

Primeiro seria preciso possuir uma plataforma única de cadastro. Hoje, é tudo separado. Há um cadastro para a saúde, outro para a educação, mais um para o tributário. Seria o prontuário do cidadão. Quem ele é na cidade. Territorializá-lo e saber quais os serviços que consome, os filhos que tem, se toma medicamentos e quais. Enfim, quem ele é. Ele realmente mora na cidade? Porque esse é um problema das metrópoles, a evasão. Muitas vezes ele mora em uma cidade e toma serviços da outra.

Já existem instrumentos capazes de oferecer esses serviços aos gestores?

Existem. São plataformas de unicidade cadastral, que mostram quem é a pessoa, o que ela utiliza, o que consome, o que possui, se tem débito ou não. Esse cadastro permitiria ao cidadão que pudesse se ver como parte da cidade: seu cadastro no SUS (Sistema Único de Saúde), qual a escola dos filhos, quais as notas que eles tiraram nas provas. Imagine! Mas nem a cidade de São Paulo possui essa tecnologia ainda. Hoje é tudo muito fatiado e sem linguagem acessível a todas as classes. O ideal é, com um único acesso, poder fazer qualquer tipo de solicitação ao governo e que o processo seja conclusivo.

Conclusivo?

Hoje, a maior parte dos portais é informativa. Não consigo solicitar alguma coisa e acompanhar o atendimento. O máximo que se consegue hoje é um número de telefone para obter informação. A proposta das cidades inteligentes é dar transparência. Se solicitar uma poda de árvore, por exemplo, o sistema vai informar o lugar na fila, a data da realização do serviço e vai comunicar claramente ao cidadão quando, e se, houver atraso.

Qual é o papel do cidadão na cobrança por um município inteligente?

A iniciativa tem de ser do poder público. O cidadão, principalmente os da classe C, D e E, não tem ferramentas para saber que isso é possível. É do prefeito, que é um grande CEO, que tem de partir o processo de modernização para poder entregar algo mais prático ao cidadão, que é o seu cliente.

E quando os prefeitos não fazem a parte deles, de quem tem de partir a cobrança?

Da sociedade. A mídia tem papel importante. É preciso mostrar que já existem processos que tornam a prestação de serviços mais eficazes. Hoje, assim que o passageiro desembarca de um voo, ele já recebe um questionário para fazer a avaliação. Na área política, temos zero de avaliação. O máximo que se pode fazer é uma reclamação, que também não sabemos se vai ter eco ou não.

O sr. faz uma relação direta entre cidades inteligentes e redução de impostos...

É simples. Sempre ouvimos falar que o Brasil não tem mais condições de aumentar a carga tributária. Já temos uma das maiores taxas do mundo. Então, o que temos de buscar é a eficiência. Saber quanto cada cidadão custa per capita e ver se é possível economizar na estrutura – na saúde, por exemplo, é preciso saber quanto custa a manutenção do prédio, a energia, os salários dos profissionais – para ver se aumento a quantidade do serviço ofertado ou a sua qualidade, com os mesmos recursos.

O sr. fala, no livro, sobre o poder local como chave do desenvolvimento das cidades. O que vem a ser este conceito?

O poder local é conhecer a aptidão do município. Cada um tem uma. Que caminho está seguindo, qual o histórico. Vejamos o Grande ABC. Era muito industrial, depois começou a se transformar em prestador de serviços. São Caetano é uma cidade que sofreu muito quando deixou de ser industrial. O município foi obrigado a mudar seu caminho porque, senão, a arrecadação ficaria comprometida e não teria mais como entregar aquilo que entregava no passado. Daí a grande importância do processo de conhecimento da economia local e a tendência. Há ferramentas que são capazes de olhar para uma cidade qualquer e entender a deficiência econômica de cada bairro, da região e que tipo de segmento poderia garantir o desenvolvimento. É o empreendedorismo vinculante.

De que maneira esse empreendedorismo vinculante poderia ajudar a atrair empresas e, consequentemente, empregos e impostos?

Hoje, o risco é todo do empreendedor. Quero montar uma atividade e escolho aquele local. Se vai dar certo ou não, o risco é dele, quando, na verdade, já existem condições de se ter estudo, baseado no tipo de população, deficiência de atividade econômica, para direcionar um crescimento mais sustentável. É por isso que atualmente abrem-se muitas empresas e também fecham-se muitas empresas.

Baseado nestes dados, é possível saber como vai ser o Grande ABC daqui a 30 anos?

Dá para planejar. Basta pegar as empresas de grande porte e os grandes prestadores de serviço, identificar o que eles consomem de fora, o que não é produzido na região, e atrair esses segmentos para abastecê-los, de modo a criar um mercado local. O norte é buscar uma economia autossuficiente. Por que o Grande ABC não cria uma política de atração de empresas que fornecem peças para, por exemplo, a Volkswagen, de modo que ela passe a comprar aqui o que hoje busca lá fora? As sete cidades deveriam ter um núcleo que olhasse a economia da região toda.

Uma discussão dessas deve necessariamente ser feita por organismo multilateral. O Grande ABC tem o Consórcio Intermunicipal...

Tem de ser. Não é São Bernardo pensando em São Bernardo e Santo André pensando em Santo André. O importante é um processo de fortalecimento da economia regional. Vemos os consórcios, não o daqui, mas no mundo, interagindo bem na mobilidade entre as cidades, mas não na economia. Há disputas do eu, não do nós. Acho que tem de mudar o conceito.

O sr. tem ideia para um outro livro?

Já comecei a esboçá-lo. Será sobre reforma administrativa. O Brasil precisa de uma. Precisa de padronização da informação, que hoje não existe. É o governo central, lá de cima, que deveria impor o modelo de padronização de informações, para que possam ser lidas de forma inteligente para criar estruturas de desenvolvimento e planejamento. Quando falo desta reforma, falo da esfera social, econômica, financeira e de ocupação de solo. Hoje não há essa padronização nacional, então cada município propõe suas políticas baseadas em critérios pessoais. No livro, vou mostrar como essa falta de padronização acarreta desperdício, falta de planejamento, falta de crescimento e falta de conhecimento de onde investir.



“As Smart Cities brasileiras e o desafio da inclusão e humanização das cidades”

As smarts cities brasileiras estão bem longe de serem inteligentes de fato. Pode parecer uma provocação, mas ao analisar quantos, e principalmente, como são ofertados à população os serviços públicos mais essenciais, temos um cenário de precariedade e desinformação.

Quando o assunto é Cidade Inteligente no Brasil, o que vem à cabeça é mobilidade, rede de wi-fi, semáforos e iluminação pública, mas ser smart não é só isso. Desde a popularização do termo Cidade Inteligente, no início dos anos 1990, a interpretação sobre seu conceito e significado mudou bastante. Infraestrutura urbana, políticas de planejamento, logística e mobilidade, são algumas das premissas presentes para se classificar uma cidade como inteligente, mas independente da vertente do momento, a tecnologia sempre foi o ponto central e orientador. Até agora.

Novas ideias e conceitos estão moldando as Cidades Inteligentes do futuro e princípios como engajamento social, participação cidadã e interação das pessoas com o Poder Público em ambientes físicos e virtuais estão colocando o cidadão no centro do debate e garantindo o acesso a serviços públicos. Os governos brasileiros, no entanto, não estão preparados para esse novo capítulo da evolução das cidades.

Nenhuma administração hoje no país conta com disponibilização de serviços de forma organizada e acessível. Quem mais consome serviços públicos são as classes C, D e E e, paradoxalmente, são as que menos tem acesso a eles. As interfaces nos portais municipais não são amigáveis, há muita propaganda da gestão e tudo fica escondido, dividido por secretaria. Quem sabe onde pedir uma poda de árvore? Na secretaria de Obras? No Meio Ambiente? Ou em Urbanismo? Isso só para citar um, entre centenas de serviços que uma prefeitura oferece.

Segundo estudo Cities in Motion Index, do IESE Business School, na Espanha, estima que a busca pelo ideal de Cidade Inteligente movimenta um mercado global de soluções tecnológicas em torno de US$ 408 bilhões. E apesar das Cidades Inteligentes serem diferentes entre si; afinal, cada lugar tem necessidades e especificidades únicas, há algumas características similares. As experiências mais atuais apontam para uma infraestrutura integrada, mas também, e especialmente, serviços conectados e mais eficientes, melhorando o cotidiano e transformando a relação do cidadão e empresas com o governo.

O avanço tecnológico continua tendo um papel fundamental no desenvolvimento das cidades, mas à medida que novas soluções são criadas, é preciso acompanhar essa evolução. Dentro dessa nova realidade, surge um novo conceito baseado no desenvolvimento de tecnologias que maximizam o uso e o acesso aos serviços públicos como parte da uma estratégia de modernização digital, gerando benefícios para a sociedade por meio da produção e acesso a dados, serviços e conteúdos e interagindo com o Governo, empresas e a sociedade civil.

Nesse contexto, a tecnologia atua a serviço do ser humano e do meio ambiente, melhorando a qualidade de vida, disponibilizando serviços de forma digital, facilitando o acesso, melhorando a gestão e prestação de serviços de áreas essenciais (saúdeeducação, benefícios, zeladoria e tributos) e criando um meio propício para o desenvolvimento de novos negócios e participação da sociedade.

O cidadão não está só cada vez mais conectado, como avança rumo à uma interconexão sem precedentes. Hoje, não basta só o indivíduo estar presente na internet, ele precisa estar online o tempo todo, em múltiplas plataformas. Com isso, sua experiência como consumidor de serviços foi ampliada e com ela o desejo de se ter tudo à mão, em qualquer lugar, em qualquer horário. Essa necessidade é real e as Cidades Inteligentes têm que estar preparadas para esse novo cidadão.

As administrações precisam avançar para oferecer o melhor atendimento, com eficiência, impessoalidade e inclusão, garantindo que qualquer pessoa, independentemente de sua condição social ou grau de instrução, possa interagir com a prefeitura de forma simples e intuitiva. Os serviços públicos devem passar por um processo de constante avaliação, como em aplicativos de transporte ou de delivery, onde o usuário avalia assim que usa o serviço.

A realidade observada na grande maioria das administrações públicas brasileiras é de ausência de ferramentas para que a população tenha acesso à serviços públicos e da falta de interação da gestão com os cidadãos. Além disso, nas poucas que possuem portais organizados, estes são voltados à propaganda e as informações são insuficientes e de difícil acesso. Hoje, mais de 80 das pessoas usam smartphones como porta de acesso à internet. Os portais de serviços públicos municipais existentes não são feitos para esse ambiente. Tudo fica escondido. A população, principalmente os menos instruídos e os mais velhos, não conseguem acessar os serviços.

Uma nova geração de administradores municipais, contudo, já entende que as Cidades Inteligentes do futuro precisam cada vez mais buscar a interação com o cidadão e, principalmente, oferecer cada vez mais serviços e com qualidade, garantindo o aperfeiçoamento contínuo da prestação de serviços e a melhoria na qualidade de vida da população. Para eles, crescimento econômico por si só não basta e planejam um futuro em que a cidade se desenvolva de modo sustentável e inteligente, colocando as pessoas como prioridade.

O aspecto humano e sustentável tem que ser levado em conta quando o assunto é Cidade Inteligente – e não apenas as tecnologias envolvidas no processo. Na prática, ser uma Smart City significa levar aos seus habitantes uma nova perspectiva de cidadania por meio da modernização da gestão pública, oferta de novos serviços e facilidades para as pessoas.

Luiz Alberto Rodrigues



“A digitalização do governo na era do home office”

A quarentena e as medidas de isolamento social em vigor no país para o combate à pandemia do novo coronavírus trouxeram também uma importante reflexão sobre as atuais formas de trabalho. Uma delas é como medir e manter a produtividade e a eficiência do serviço público nos casos de home office?

Antes restrito à poucas funções e profissionais, hoje o trabalho remoto está presente em quase todas as empresas, se tornando fundamental para manter o mínimo da atividade econômica neste período. Na administração pública, no entanto, o método esbarra na falta de protocolos, processos e infraestrutura capazes de garantir a produtividade deste tipo de trabalho.

Adequar o serviço público à realidade do home office é apenas um capítulo de uma novela que se estende há décadas e passa por todas as esferas de governo. A busca por mecanismos de controle e monitoramento das atividades dos servidores é tão urgente quanto espinhosa e enfrenta resistência dentro do próprio funcionalismo, em que parte se vê ameaçada caso as administrações adotem ferramentas de medição de produtividade.

Segundo dados do Atlas do Estado Brasileiro, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil tinha, em 2017, 11,5 milhões de funcionários públicos, sem contar os de empresas estatais. Deste total, mais da metade está concentrado nos municípios. A grande maioria deste contingente de servidores presta serviços à população sem nenhuma ferramenta de acompanhamento.

A Reforma Administrativa, paralisada no Congresso Nacional por conta da pandemia da covid-19, traz um interessante ponto de vista sobre produtividade para o serviço público, com a sugestão de pôr fim às promoções por tempo de serviço. Se passar como está na proposta, o item transformará um ato compulsório em objeto de análise de desempenho, o primeiro passo para uma gestão baseada em meritocracia e uma contribuição importante para o aumento da produtividade.

Apesar das barreiras impostas, o movimento rumo à modernização para a eficiência do serviço público é inevitável. Ancorado em novos conceitos tecnológicos disruptivos, como a Internet das Coisas e a Internet dos Serviços, a profissionalização da gestão chegará, mais cedo ou mais tarde, também ao serviço público.

Vale pontuar que modernização não é apenas transformar papel em dados eletrônicos, adotar um controle de acesso por biometria ou possuir a melhor infraestrutura digital, como geralmente o tema é tratado aqui no Brasil. É muito mais do que isso. Essas ações são consideradas obrigações e não agregam inteligência ao processo.

A modernização do serviço público precisa estar ancorada nos princípios do Serviço 4.0, um termo coletivo para tecnologias e conceitos de empresas de serviço e função de suporte com base em novos conceitos tecnológicos disruptivos, como blockchain, big data, Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial, analytics, machine learning, business intelligence e cloud computing. A internet das coisas (IoT) e o big data, por exemplo, já são utilizados para monitoramento e medição de processos em tempo real.

Esses princípios, que antes só estavam presentes no setor privado, como produtividade, controle, modernização, responsabilização, meritocracia e impessoalidade, agora já fazem parte do dia a dia de diversos municípios brasileiros. Além da ótica do gestor, a população ganha em eficiência, melhoria no atendimento e, consequentemente, na qualidade de vida, provando, na prática, que é possível trazer eficiência à gestão pública, mesmo em tempos de home office.

Se tivéssemos um sistema único de identificação pessoal digital, poderíamos hoje, seguramente, ter mais de 90 da gestão pública realizada de forma on-line. Só a modernização pode garantir que a máquina pública seja eficiente. A tecnologia, aliada à inteligência de dados, torna possível o trabalho remoto no serviço público com controle, produtividade e eficiência. Os sistemas inteligentes de gestão permitem ao administrador jogar em tabuleiros simultâneos. O mercado já oferece uma ampla gama de produtos focados em trazer eficiência e produtividade ao serviço público e na melhoria da qualidade de vida da população, contribuindo para a construção do ideal de justiça social que deve balizar a gestão pública.

Luiz Alberto Rodrigues



“Só a tecnologia pode mudar a gestão pública do Brasil”

Especializada em sistemas de gestão e governança, a empresa paulista Eicon está auxiliando centenas de prefeituras pelo Brasil a economizar e melhorar a qualidade dos serviços prestados aos cidadãos.

Por Agostinho Turbian, publisher de AméricaEconomia, de São Paulo

A Eicon Tecnologia é uma empresa que nas­ceu com DNA para o setor público. Com sede em São Paulo e com mais de 600 colabo­radores, a companhia é focada no desenvolvi­mento de sistemas de gestão e governança para acompanhamento, padronização e fiscalização de serviços públicos.

Luiz Alberto Rodrigues, fundador e CEO, começou sua carreira na área pública ainda aos 14 anos, e desde sempre demonstrou seu inconformismo com o que chama de “inefici­ência crônica” das administrações. Visionário, ainda na década de 1980 percebeu que, para mudar o paradigma da administração pública, precisaria trocar o balcão do serviço público pelo empreendedorismo. Nesta entrevista ex­clusiva, Luiz Alberto compartilha um pouco da sua visão sobre seu ideal de gestão pública e os desafios para alcançá-lo.

AméricaEconomia – Como está o processo de informatização da gestão pública no Brasil?

Luiz Alberto Rodrigues – O uso de ferra­mentas colaborativas na gestão de problemas das cidades é uma forma de aumentar a participação da sociedade na administração pública. No en­tanto, no processo de ampliar as ferramentas da tecnologia da informação e comunicação, o Bra­sil fortaleceu os serviços tributários (nos níveis federal, estadual e municipal), tais como a nota fiscal eletrônica, o programa de ajuste anual do Imposto de Renda Pessoa Física, o pagamento e a licença dos veículos, entre outras facilidades. Na maior parte das vezes o objetivo dessa mo­dernização é aumentar a arrecadação de tributos. Os administradores estão muito mais focados na melhoria de controles para elevação das receitas do que em facilitar o acesso do cidadão e das em­presas aos serviços disponíveis em cada governo.

O mais recente relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em 2016, apresentou um ranking dos 193 estados-mem­bros que adotam as boas práticas de governan­ça eletrônica em suas políticas de governo, com base em indicadores elaborados pela própria en­tidade. O Brasil ocupa a 51ª posição do ranking mundial, que é liderado pelo Reino Unido, segui­do por Austrália, Coreia do Sul, Singapura e Fin­lândia. País sul-americano mais bem colocado, o Uruguai aparece na 34ª posição.

AE – Como a tecnologia pode melhorar a ges­tão dos serviços públicos?

LA – Primeiro, é necessário explicarmos o conceito de tecnologia. Muito se fala em mo­dernização da gestão pública, mas é importante deixar claro que modernizar é diferente de auto­matizar. Um exemplo: automatizar é ir ao posto de saúde e instalar um ponto de frequência por biometria. O funcionário vai lá e registra sua impressão digital, mas não há nada que garanta a prestação do serviço. Modernizar é construir, apoiado em diversos fatores, uma mudança de paradigma da sociedade. A tecnologia, por si só, não faz nada sozinha. É necessário um trabalho de inteligência por trás, e é isso o que a moderni­zação faz. Usando o mesmo exemplo, moderni­zar é ter um acompanhamento em tempo real de todo o processo, criar padrões de tarefas que pos­sam ser monitoradas e fiscalizar sua efetividade. Já há sistemas inteligentes de gestão disponíveis para fazer tudo isso e muito mais. Ou seja, não é a tecnologia que vai fazer a diferença na gestão pública, mas o uso que se faz dela.

AE – O que a administração pública ganha com a implantação desses sistemas?

LA – Em uma palavra: eficiência, em todos os sentidos. A modernização garante e controla a operação em qualquer atividade. Podemos usar o setor privado como exemplo. Qualquer empre­sa séria consegue medir a produtividade de seus colaboradores estabelecendo metas e mantendo um acompanhamento das tarefas. O setor públi­co deveria seguir a mesma lógica, mas não o faz.

Os governos deveriam tratar o cidadão como cliente. Se cada processo tivesse sua produtivi­dade medida por sistemas padronizados e fisca­lizados, a administração pública ganharia em ar­recadação, redução de despesas, mais qualidade na prestação de serviços, satisfação da popula­ção etc. A lista de ganhos é infinita.

AE – Como medir essa eficiência?

LA – Em primeiro lugar é necessário tirar a pessoalidade dos processos. Toda a gestão de metas e tarefas precisa ser padronizada para cada aplicação. No Brasil temos a figura do concur­so público, o que é muito positivo e contribuiu para a impessoalidade da administração, mas precisamos evoluir. Hoje, por exemplo, é quase impossível um gestor público demitir um fun­cionário por ineficiência – nem tanto devido à legislação, mas simplesmente porque lhe faltam ferramentas para aferir essa ineficiência. A lógica também serve para o oposto: como reconhecer um funcionário exemplar se não há sistema pa­dronizado que mostre isso? Se não temos pro­cessos claros, caímos no casuísmo e nos favores. A meritocracia na gestão pública precisa deixar de ser folclore.

AE – Qual a saída para melhorar essa realidade?

LA – Precisamos de uma reforma total do modelo de gestão atual. Cada vez que o governo é ineficiente, busca a arrecadação para compen­sar. É um círculo vicioso. Não adianta aumentar a arrecadação e continuar gastando errado. Há escolas que dispõem de lousas eletrônicas, mas não têm papel higiênico no banheiro ou a lim­peza é deficiente, por exemplo. Colocaram lá a lousa eletrônica para atender a alguma demanda política, mas não há um sistema para gerenciar o básico. Há um conjunto de palavras que a tec­nologia traz para a gestão pública: identificação, monitoramento, controle, mensuração, avalia­ção, metrificação e responsabilização.

 

AE – Em quais áreas a tecnologia pode auxi­liar a gestão pública?

LA – Em todas as áreas. Literalmente em todos os serviços oferecidos ao cidadão. Vamos focar em duas das principais: saúde e educação. Na área da saúde não basta adotar o prontuário eletrônico: esse é um passo. Administrativamente, há como definir metas de tempo de atendimento, respei­tando o que a Organização Mundial da Saúde en­tende como tempo ideal para uma consulta. Isso evita que um médico que trabalha seis horas aten­da todo mundo em duas, como vemos em alguns casos. É possível também monitorar, via geoloca­lização, o tempo de permanência dos pacientes e dos funcionários; a gestão da farmácia, evitando erros e desvios; a frequência de limpeza etc.

Na educação, é possível monitorar e fiscalizar desde a conservação das escolas, como limpeza e serviços de manutenção de terceiros, até o acom­panhamento da grade curricular pelos professo­res, sistematizando pontos a serem abordados em cada aula, e a efetividade do aprendizado, além de muitas outras possibilidades. Um siste­ma integrado e inteligente na educação poderia contribuir para uma melhor avaliação de todo o processo de aprendizado, sugerindo mudanças de acordo com cada aluno, escola ou região.

Imagine uma ferramenta que permita à fa­mília acompanhar a frequência do aluno, bem como sua avaliação e o conteúdo ministrado em sala de aula. Há diversos aspectos positivos para todos os envolvidos no processo, inclusive pos­sibilitando que a família, quando possível, possa auxiliar o estudante em casa com base no conte­údo recebido na escola. Isso mudaria a perspec­tiva do ensino público.

AE– A modernização afeta só o controle do funcionalismo? O que mais muda?

LA – Não se trata apenas de saber a que horas o funcionário entra e sai, ou o que ele produziu durante o expediente. A modernização pode orga­nizar e padronizar todos os serviços da administra­ção. Pode, entre outras coisas, fiscalizar o serviço de terceirizados, o que hoje é um grande desafio para a gestão pública. Uma operação de tapa-buraco, por exemplo: hoje a administração paga por uma nota dizendo que foram tapados “x” buracos, mas sem saber se esse serviço foi efetivamente prestado e com qual nível de qualidade. A tecnologia pode mudar esse quadro. O sistema poderia padronizar que cada buraco tapado seria acompanhado de uma foto em tempo real do serviço prestado, com parâmetros a serem seguidos e acompanhamento por geolocalização. Se o buraco fosse aberto nova­mente, a administração teria como responsabilizar imediatamente o prestador do serviço.

AE – Muitos municípios e até estados estão quebrados. Como mudar esse paradigma com tantos problemas?

LA – Ao contrário do que muitos gestores pensam, implantar sistemas de gestão não custa muito. A tecnologia sem inteligência é cara, por­que não garante a produtividade. Como disse antes, para que instalar um ponto biométrico se você não tem como garantir que esse funcioná­rio estará lá para atender – e mais, fazendo um bom trabalho? A modernização precisa ser vista pelo poder público como investimento, e não como gasto.

Hoje, quando falta remédio num posto de saú­de, os órgãos fiscalizadores apontam o dedo para o município e acusam: “você gasta com tecnolo­gia, mas não compra remédio”, quando na verda­de a tecnologia deveria garantir que não faltasse remédio no posto. É preciso inverter a lógica. Há centenas de municípios, inclusive clientes da Eicon, que conseguiram mais do que dobrar sua arrecadação usando a tecnologia. Então essa his­tória de não ter dinheiro é uma meia verdade: o que falta é foco e vontade política de mudar.

AE – É possível ter esse nível de integração de sistemas no Brasil, onde os entes federativos – União, estados e municípios – têm realida­des e níveis diferentes de informações?

LA – Perfeitamente possível. Não estou fa­lando de ter um RG único: os sistemas não pre­cisam ser iguais, só precisam ser compatíveis. O setor bancário, por exemplo, não usa um sistema comum. Cada banco usa o seu sistema, mas no fim do dia tudo cai no sistema de compensação. Então, é necessário apenas ter algum sistema que converse com todos.

AE – Há experiências parecidas no mundo? Você tem conhecimento?

LA – Nesse nível de conectividade que vis­lumbro, com tudo integrado, monitorado e sistematizado, não tenho conhecimento, mas há boas experiências em várias cidades. Em Treviso, na Itália, cada lata de lixo na rua pos­sui um QR Code que obriga o coletor a regis­trar que retirou dali o lixo. Foi a forma que a cidade encontrou de reduzir o número de lo­cais que não eram atendidos. Nos eventos so­bre smart cities, sempre são relatados ótimos cases. Se aplicássemos todas as soluções tec­nológicas de gestão disponíveis hoje em uma cidade, teríamos com certeza a visualização do conceito de “cidade inteligente”.

AE – Qual o próximo passo?

LA – Acredito que a evolução para uma administração pública inteligente vai pavimentar o caminho para, de fato, termos um governo colaborativo. A modernização chega para mu­dar o paradigma da gestão pública. Só por meio da tecnologia inteligente conseguimos garantir a operação em qualquer atividade, com mo­nitoramento, cumprimento de indicadores, controle e responsabilização. Já passamos da cidade analógica para as cidades digitais; o pró­ximo passo serão as cidades conectadas.



“Já passou da hora de mudarmos a Máquina Pública”

por Luiz Alberto Rodrigues

Em época de eleições, muito se discute sobre a real responsabilidade de nossos governantes. Será que o futuro do país e de nossa população depende exclusivamente deles?

É muito difícil para os gestores públicos administrarem a Máquina Pública. Por mais que lutem para atingir os objetivos mínimos declarados em suas campanhas, as condições para uma boa governabilidade são precárias.

Em um governo de quatro ou oito anos, uma boa gestão e operação depende, quase que exclusivamente, da vontade dos que tocam a Máquina Pública diariamente, ou seja, servidores públicos administrativos, financeiros, médicos, professores, atendentes, recepcionistas, etc.

Em suma, o Brasil é administrado e gerido muito mais pela vontade dos líderes nomeados e por aquilo que os governantes acreditam e executam, do que pelo planejamento e projetos de servidores técnicos e funcionários que estão com estabilidade de emprego.

É comum, nos mais diversos departamentos, os funcionários públicos se perguntarem: “Por que vou fazer isso, se daqui algum tempo meus chefes serão outros?”. Sei que esse modelo não será alterado, pois a estabilidade no funcionalismo público é cultural e defendido por lei. Se não fosse assim, também poderiam haver injustiças e os governantes tomariam para si uma decisão de demitir esse ou aquele funcionário por acreditar que ele não apoia o seu governo. Essa é uma conta que não fecha e não vai fechar.

Estabilidade de emprego por produtividade e demissão por livre arbítrio representam o conceito de meritocracia, pois quem não executar seu trabalho dará lugar para quem o fizer. Porém, infelizmente, meritocracia virou uma palavra da moda, até porque pelo modelo de operação da Máquina Pública, qualquer meritocracia aplicada será política.

E como mudar isso? Há somente uma maneira: o uso da tecnologia. E não basta falar em modernização se não houver por trás o conceito primário do cumprimento de etapas e processos pré-definidos. Somente a tecnologia pode vigiar e cuidar para que determinada tarefa da gestão pública seja feita no tempo necessário, pelo funcionário responsável e da forma correta.

Hoje, a tecnologia possui leitura facial, biometria, GPS, o que facilita que todas as tarefas sejam auditadas previamente, desde responder um processo interno, com a lista de despachos pré-definidos, até o registro e mensuração digital de tapa-buracos, poda de árvores, manutenção de calçadas, etc.

Com as tecnologias disponíveis é possível garantir quem fez, quando fez, como fez, para quem fez e onde fez determinada atividade, seja na Saúde, Educação, serviços terceirizados, mãos-de-obra terceirizadas, ou seja, em toda a Máquina Pública.

No modelo atual não é mais concebível gerenciar a Máquina Pública, pois a conta é cara, os custos são altos e os serviços são ineficientes. Mesmo as elevadas arrecadações não conseguem mais atender e pagar as demandas existentes em todo o país.

A ordem da Governança Pública no Brasil deve ser planejar, controlar e responsabilizar, e somente a tecnologia pode vigiar e controlar de forma automática as atividades e tarefas da administração pública. Caso isso não ocorra estaremos fadados a continuar com uma Máquina Pública cara e inoperante que jamais entregará os serviços exigidos e esperados pela população.



“A Tecnodemocracia e as Transformações Sociais”

As empresas vêm utilizando recursos tecnológicos para a gestão há muito mais tempo do que o Poder Públi­co, que por inúmeros motivos, não se interessava em mo­dernizar a administração das cidades, dos estados e até do País. Hoje, a área de tecnologia tem a aptidão de atrair e reter milhares de profissionais criativos que idealizam alternativas para solucionar os problemas enfrentados pelas companhias privadas, portanto, já passou a hora dos ges­tores públicos recorrerem às soluções em conhecimento existentes no mercado em benefício da população.

Diante desta realidade, precisamos considerar os novos modelos de comunicação e de geração de infor­mações adotados em todo mundo que geram rapidez na captação e propagação de opiniões e notícias, e a facili­dade de qualquer pessoa ser um agente informativo. As­sim, criar métodos que separem as boas e más ideias é fundamental para se estabelecer um canal de comunica­ção direto entre cidadãos e o Poder Público. Os governos devem utilizar as novas ferramentas tecnológicas e a comunicação como parte da estratégia de difundir a qualidade, a transparência e a eficiência da administração pública na realização de suas obrigações, sobretudo, na entrega de serviços públicos de qualidade que primem pela racio­nalização dos recursos.

Seja na Saúde, Educação, Segurança, Cultura ou manutenção e melhorias das cidades, a gestão pública tem um obstáculo comum a ser superado: fornecer elementos que a integrem com a população. É necessário que os governantes conheçam o perfil intelectual e so­cioeconômico de seus cidadãos para que eles possam acompanhar a evolução dos serviços e saber como in­fluenciar para aprimorá-los.

Aliado a isso, o gestor precisa criar métodos para se adequar às atividades de todos os segmentos que mo­vimentam a economia do município, levando em conta as características sociais e econômicas de cada região. Somente considerando estes dois cenários em parale­lo o gestor público consegue planejar suas ações, fis­calizar, coordenar as tarefas diárias e racionalizar os recursos disponíveis para oferecer serviços públicos eficientes e de qualidade. Assim, o “cliente” cidadão fi­cará satisfeito com a administração que é feita na cida­de onde vive, pois a mesma atende suas expectativas e desperta bons sentimentos.

Já citamos que a tecnologia mudou o modo de vida da sociedade, inclusive, o jeito de governar bairros, cida­des, estados e países, mas ela também pode auxiliar os gestores a saberem quais são esses desejos que habitam a alma e a mente dos cidadãos e, ainda, como alcançá-los. Desta forma, podemos concluir que o uso de soluções em conhecimento já é, e pode ser ainda mais, um artifício para o gestor público ofertar mais e melhores serviços, além de novos canais para fortalecer a cidadania.

Seguindo esta linha, o filósofo polonês Adam Schaff, em sua obra ‘A sociedade informática’, diz que o progres­so da tecnologia e seu uso pela administração pública tor­narão viável uma verdadeira democracia, descentralizando o poder e aumentando a responsabilização e a liberdade individual no dia a dia. É a chamada tecnodemocracia, e dentro deste conceito, as transformações que aconteciam em décadas, hoje acontecem em dias, pois os núcleos decisórios se movem rapidamente, resultado da conver­gência de tecnologias que permite maior velocidade em se ter dados, informações e decisões.

No exterior, vemos exemplos claros de como a tec­nologia trouxe melhorias à sociedade. Em Barcelona, por exemplo, há lixeiras inteligentes que indicam a melhor hora para o caminhão recolher o lixo. Em Dublin, capital da Ir­landa, um sistema preciso indica ao cidadão quanto tem­po o ônibus vai demorar para chegar àquela parada.

Saindo de exemplos europeus, destaco Buenos Ai­res, que a partir de 2011, diante de um alto índice de cri­minalidade, modernizou a polícia e seus protocolos opera­cionais, assim como os sistemas de cadastros, redes de comunicação de voz e dados. Sensores e câmeras foram implantados, e a prefeitura adquiriu veículos conectados e treinou os policiais para uso dos novos dispositivos. O resultado foi a diminuição da criminalidade devido a me­lhor resposta da polícia aos chamados, uma melhor distribuição de agentes e viaturas, e a integração de todos os sistemas públicos e de emergência. Mais do que reduzir os crimes, a modernização mudou a percepção de segu­rança por parte da população.

Poderia citar ainda o caso de Nova Iorque, também em relação à segurança; de Bristol, na Inglaterra, sobre a iluminação pública; ou Santander, na Espanha, e seus sensores para organizar o tráfego urbano.

Fato é que agora é a hora dos gestores públicos in­vestirem em soluções em conhecimento na busca de efi­ciência nos processos, qualidade dos serviços oferecidos, racionalização de recursos e transparência na adminis­tração, pois o tamanho da carência que os cidadãos têm pela ausência do Poder Público é proporcional a quantida­de de informações geradas diariamente que podem tor­nar a população insatisfeita e contrária a um mandato na gestão pública.



“A inovação é um trabalho de pessoas inquietas”

Em seu livro “TED Talks”, o presidente do TED, Chris Anderson, conta uma das pequenas histórias mais fascinantes que tive a oportunidade de conhecer em muito tempo. Fala sobre inovação, empreendedorismo e, principalmente, criatividade.

Ao viajar para Nairóbi, Quênia, ele e uma colega encontram um garoto de doze anos chamado Richard Turere. Sua família criava gado e um dos maiores problemas que tinham era o constante ataque de leões à noite. Eles já haviam tentado acender fogueiras para assustar os felinos, mas de nada adiantou – eles continuavam vindo.

Logo, Richard percebeu que, se andasse de um lado para o outro com a tocha acesa, os leões se sentiam intimidados e não apareciam. Sabendo disso, ele criou um sistema de luzes que acendiam e apagavam em sequência, produzindo uma sensação de movimento. Tudo foi produzido com sucata – painéis solares, bateria de carro e um visor e Richard, vejam só, tinha aprendido eletrônica sozinho mexendo com peças tiradas de um rádio dos pais.

Com a invenção, os ataques dos leões cessaram. E não só isso: a notícia se espalhou e outras aldeias decidiram adotar a invenção! Ao invés de matar os felinos, eles se protegeram com a iniciativa de Richard e tanto os aldeões quanto os ambientalistas ficaram felizes.

Esse é apenas um exemplo de como a criatividade está ligada à inovação. Como são duas coisas diferentes que, sem dúvida, se complementam. E de como a inovação precisa ser absorvida no dia a dia das empresas. Tiro dessa história ao menos três lições importantes:

  • Identificar a necessidade deve ser sempre o início do processo. Richard e as outras aldeias tinham a mesma demanda, por isso, deu tão certo.
  • A curiosidade e a busca pela excelência levam à real solução do problema. Ao invés de caçar os leões, ele procurou fazer com que todas as partes envolvidas na situação se mantivessem intactas.
  • Inovação não é trabalho de gênios e, sim, de pessoas inquietas e curiosas que possuem uma necessidade.

Como criatividade e inovação são muitas vezes confundidas, as pessoas costumam assumir que não é possível impulsionar processos de inovação dentro de uma organização.

Criatividade é a capacidade de conceber algo original ou diferente. Inovação é a implementação de algo novo. Richard criou uma forma diferente de lidar com um problema e o seu processo de inovação, já testado, foi adotado por pessoas que sofriam da mesma situação e mudou toda uma região.

Uma diferença simples

Claro, o próprio termo “inovação” denota algo diferente, novo. Porém, um processo de inovação pode ser muito mais simples e não precisa ser criado do zero.

O poder da inovação é reconhecido hoje graças à cases como os aplicativos de serviços de transporte, que criaram uma demanda nova e fizeram com que todos ficassem satisfeitos.

Do meu ponto de vista, criatividade é importante no mundo corporativo atualmente, mas é apenas o começo. O que garante uma mudança real e retorno financeiro é a adoção da inovação, que de fato colocam as ideias para funcionar.



“Empreendedorismo: uma provocação”

Quando falamos de empreendedorismo, pensamos logo nos ganhos financeiros e no capital, o que faz sentido, já que uma grande parcela das pessoas começa a empreender porque estão desempregadas.

De acordo com o IBGE, no primeiro trimestre deste ano o desemprego no Brasil aumentou 13,7 enquanto o empreendedorismo cresceu 29,5. Contudo, o empreendedorismo ainda tem um papel social.

Novos produtos, serviços – novas empresas – surgem porque a sociedade possui uma lacuna que precisa ser preenchida, um problema que ainda não possui uma solução eficiente.

O caso atual mais clássico são as startups de transporte, que existem porque:

  1. Táxis são caros
  2. O transporte público não oferece a qualidade necessária
  3. Os governos não realizam os investimentos necessários

Poderia dar exemplos de todos os setores, desde a área da saúde, com gestão de leitos e equipe médica, até mesmo os serviços financeiros, de cartões de créditos até investimentos, porque o empreendedorismo permeia toda a sociedade – independente de classe social.

Precisamos do empreendedorismo pois ele faz mais que criar novas soluções para problemas antigos: eles provocam a necessidade de mudança.

Empresas e serviços consolidados no mercado, como bancos ou planos de saúde, começaram a ser provocados pelas novas empresas a oferecer condições melhores para seus consumidores.

E vimos essa pressão aumentar com o desenvolvimento do ecossistema de startups e as novas soluções digitais.

Até 2016, taxistas não precisavam aceitar pagamento em cartão, mas Uber, Cabify, EasyTaxi e 99 provocaram essa mudança, melhorando o serviço ao cidadão e ao cliente.

Um cartão de crédito internacional não era para qualquer, com o movimento do NuBank e do Banco Original, a Visa precisou criar o Neon e o Bradesco o Banco Next.

Provocados pelas falhas e problemas da sociedade, os empreendedores criam, inspiram, movimentam e aumentam a transformação.



“A gestão do talento em primeiro lugar”

Você com certeza já ouviu falar da importância da gestão do talento para o sucesso (ou não) de uma empresa.

O mantra, repetido por executivos e especialistas no mundo todo, não poderia estar mais correto: o “primeiro quem e depois o quê” traduz a verdade universal de que ninguém faz nada sozinho.

Se hoje é necessário inovar, aumentar a produtividade e integrar a tecnologia ao cotidiano, nada mais normal do que entender que as pessoas são necessárias para levar isso adiante.

Segundo recente estudo realizado pela Universidade da Califórnia, em Riverside, um trabalhador feliz/realizado é, em média, 31 mais produtivo, suas vendas são 37 mais elevadas e sua criatividade é três vezes maior do que a de outros colaboradores menos felizes.

Um dos pontos essenciais da gestão das pessoas é que já não é a companhia que escolhe um colaborador, e sim o contrário.

Isso mesmo: a capacidade de atrair e manter talentos é o que irá impulsionar ou dificultar qualquer mudança necessária dentro da empresa e o candidato sabe disso.

Hoje, estimular e integrar o colaborador depende muito mais do que a empresa faz e como se comporta.

Dentro dessa nova realidade, é necessário incorporar a cultura organizacional aos objetivos de carreira das pessoas, participar de ações sociais que demonstrem comprometimento com o ambiente onde está a companhia e empoderar o departamento de Recursos Humanos.

Abaixo de tudo isso está o líder, cujo papel é fundamental para alavancar e manter as mudanças.

Pela causa, e não pelo líder

No best-seller “Empresas Feitas para Vencer”, um dos mais importantes estudiosos da gestão de empresas do nosso tempo, o consultor de empresas, Jim Collins, diz que “uma grande visão sem as pessoas certas é irrelevante”. Ele não poderia estar mais certo.

E se a cultura da empresa deve ser focada no colaborador, para proporcionar um ambiente adequado à criatividade e à colaboração, o líder deve encabeçar essa transformação.

No mesmo livro, Collins fala sobre o líder que estimula as pessoas a seguir uma causa, um propósito.

Bill Gates, por exemplo, queria colocar um computador na mesa de todo mundo. Elon Musk, CEO da Tesla, quer colonizar Marte.

Na Eicon, acreditamos que por meio da tecnologia e soluções para a gestão pública, traremos facilidades para a vida das pessoas.

Queremos que a burocracia seja inteligente e impulsione a transformação social, esse é o valor que queremos passar aos nossos 500 colaboradores.

Posso dizer hoje que entendemos a importância do talento para a Eicon e demos o primeiro passo.

O engajamento de nossos funcionários não é apenas parte central de nossa estratégia de negócios.

É a base do nosso futuro.



“Tecnologia no setor público”

A Tecnologia já esta presente em todos os setores da vida humana, permeando as diversas atividades, sempre com o intuito de satisfazer desejos e necessidades, substituir, aliviar ou simplificar esforços fisico ou mental despendidos na realizacao de diferentes tarefas. Estamos atualmente vivendo a segunda revolução industrial, que tem como caracteristica fundamental a ampliação das capacidades intelectuais do homem.

Vejo a Tecnologia como um salto libertador para a conquista de melhor qualidade de vida, um recurso maravilhoso para libertar o homem moderno de tudo aquilo que e desagradável, rotineiro e estressante.

Foi nesta linha de pensamento que usei todo meu conhecimento aliado a tecnologia para criar controles inteligentes que atendessem tanto o setor publico como o privado, promovendo aos administradores informações confiáveis em tempo real para tomada de decisões.

A tecnologia promove a modernização, mas ela sozinha, sem os princípios morais e éticos, não nos leva a lugar nenhum.[:en] A Tecnologia já esta presente em todos os setores da vida humana, permeando as diversas atividades, sempre com o intuito de satisfazer desejos e necessidades, substituir, aliviar ou simplificar esforços fisico ou mental despendidos na realizacao de diferentes tarefas. Estamos atualmente vivendo a segunda revolução industrial, que tem como caracteristica fundamental a ampliação das capacidades intelectuais do homem.

Vejo a Tecnologia como um salto libertador para a conquista de melhor qualidade de vida, um recurso maravilhoso para libertar o homem moderno de tudo aquilo que e desagradável, rotineiro e estressante.

Foi nesta linha de pensamento que usei todo meu conhecimento aliado a tecnologia para criar controles inteligentes que atendessem tanto o setor publico como o privado, promovendo aos administradores informações confiáveis em tempo real para tomada de decisões.

A tecnologia promove a medernizacao, mas ela sozinha, sem os princípios morais e éticos, não nos leva a lugar nenhum.



“Município: um condomínio de todos nós”

Em todas as minhas palestras sobre o setor publico, costumo dar como exemplo um condomínio residencial, onde os moradores pagam mensalmente uma taxa de condomínio que são administradas por um Sindico (eleito em assembléia). A este Sindico cabe a obrigação de gerir o caixa do condominio. Para isso ele define em assembléias ou reuniões um destino apropriado para todos os gastos e demonstra mensalmente atraves de balacentes onde todos tem o direito de acesso e auditoria.

Se compararmos tudo isso ao Setor Publico, veremos que se trata da mesma coisa. Um prefeito, governador ou mesmo presidente, também e eleito pelo povo para gerir as finanças e a prestação de serviços públicos aos seus cidadãos. Ele também tem que zelar pelo destino do dinheiro e também e obrigado a prestar contas para aqueles que contribuíram. Se o Administrador Publico não promover a igualdade de condições, ele estará ferindo um dos princípios básicos da nossa Constituição, o DIREITO DE IGUALDADE . Sabemos que como cidadãos, todos nos temos a obrigação de contribuir, seja através do Imposto sobre a Renda, CPMF, IPTU, ISSQN, ICMS, IPI, IPVA, PIS, COFINS, etc, e sabemos que se não houver uma política justa, seremos prejudicados pelos maus pagadores. Se um ou vários não pagam, todo o processo de prestação de serviços será prejudicado, seja pela ineficiência ou ate pela ausência de serviços por falta de verba publica. Infelizmente vivemos num mundo onde existem os bons e os maus, e por isso precisamos de ações disciplinadoras, orientadoras, controladoras e punitivas para que não cometamos a injustiça social e fiscal. Todos os projetos e produtos que desenvolvo possuem todos estes requisitos. E preciso promover uma mudança drástica nos nossos costumes, o cidadão de bem não deve aceitar ser injustiçado em função dos maus pagadadores, e estes devem entender que atitudes de desrespeito como o seu semelhante deve ser punido sob a forma da Lei.



“Soluções Inteligentes para a administração pública: por que a tecnologia deve ser usada para beneficiar a população”

As empresas privadas, tanto as de pequeno porte quanto as multinacionais, utilizam a tecnologia para administrar diversas áreas, desde o financeiro até a gestão de pessoas. As mais bem-sucedidas investem em soluções de ponta que cuidam de todos os processos, incluindo os mais complexos. Toda organização, se quiser ter sucesso, precisa investir em soluções tecnológicas não só para se destacar no mercado, mas também para entregar aos seus consumidores um serviço eficiente e de qualidade.

No entanto, apesar da forte presença no segmento privado, a tecnologia também é fundamental na administração pública. Em um país no qual, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cerca de 50 das pessoas estão conectadas à internet, oferecer um serviço interativo, ágil, eficiente e intuitivo é essencial para aproximar ainda mais o serviço público dos cidadãos que mais necessitam e poder oferecer um retorno direto à sociedade.

Além disso, os administradores públicos precisam de soluções robustas para terem mais controle dos processos de um município e saberem distribuir da forma mais adequada os recursos, a fim de melhorarem a vida da população. Afinal, a base para investir em melhores instalações hospitalares, no transporte público ou na educação está na boa gestão do dinheiro arrecadado para o município e seu correto direcionamento.

Tecnologias voltadas para a gestão pública já estão disponíveis no mercado e podem auxiliar várias frentes, incluindo arrecadação de impostos, saúde e educação. Mais do que oferecer ao administrador público ferramentas para ajudá-lo na gestão de recursos, a tecnologia também atende ao crescente apelo da população, que cobra cada vez mais transparência do Poder Público e práticas anti-corrupção.

A modernização da máquina pública não é construída apenas com sistemas de automação dos processos, mas com soluções que efetuam auditoria automática, evitam desvios e apontam inconsistências. É indispensável que seja gerada informação de qualidade baseada em um conjunto de valores que prezam pela responsabilização, transparência e a impessoalidade. Seguindo este modelo, os sistemas inteligentes mensuram todos os processos e contam com ferramentas para avaliar quais fornecedores, por exemplo, oferecem os melhores custos e serviços para a gestão pública.

Mais do que responder à essas necessidades, a tecnologia também cumpre um importante papel no atendimento às demandas gerais da população. Imagine poder reportar, por meio de um aplicativo no celular, a existência de um buraco na rua ou uma luz queimada em um poste e, no mesmo momento, uma central receber seu pedido e verificar, automaticamente, em quanto tempo o problema pode ser resolvido? Imagine ainda que você como cidadão, poderia acompanhar todo o processo pelo mesmo aplicativo, até que o problema fosse resolvido? Tudo isso já é possível e, sem dúvidas, pode contribuir para uma gestão mais assertiva e eficiente. Basta o setor público avaliar as soluções oferecidas no mercado e buscar aquela que melhor atenda a sua necessidade.

O fato é que a tecnologia, já tão presente em nosso cotidiano – como ferramenta de trabalho ou entretenimento –, precisa também contribuir para a gestão pública, oferecendo subsídios para que a população seja cada vez mais ouvida – e atendida – pelos administradores públicos.